Virgindade Perpétua de Maria - Os Irmãos de Jesus
- ocatecumeno
- 1 de set. de 2021
- 6 min de leitura
Atualizado: 2 de set. de 2021
Sem dúvida, os dogmas católicos mais contestados e zombados são os dogmas marianos (que tratam a respeito de Maria, mãe de Deus). Já esclarecendo que ser mãe de Deus, Cristo divino, ou apenas de Cristo enquanto homem não se trata de um dogma mariano, mas sim de dogma a respeito da pessoa de Cristo, de sua natureza. Referente a esta questão, a Igreja declara por verdade de fé a união hipostática, que irei esclarecer em outra oportunidade. Voltando ao centro deste documento, iremos averiguar o ensino católico sobre a Virgindade Perpétua de Maria, focando em argumentos apenas nas Escrituras (sem utilizar de argumentos históricos, tradição oral/apostólica ou da Patrística que já esmaga a tentativa protestante e pagã de ridicularizar Nossa Senhora procurando interpretá-la como uma criatura qualquer). Veja:
Em Marcos 6:3 - "Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs?”. E ficaram perplexos a seu respeito."
Aqui temos o relato sobre irmãos e irmãs de Jesus. O texto provavelmente mais utilizado para derrubar o dogma. Porém devemos fazer o estudo bíblico em um contexto total das exposições bíblicas, considerando também a cultura e língua na qual está inserida no momento a qual foi escrita (é um erro gravíssimo interpretar com a mentalidade moderna, com a língua e cultura atual) abandonemos o anacronismo (erro de cronologia que consiste em atribuir a uma época ou a um personagem ideias e sentimentos que são de outra época) e voltemos à realidade histórica factual. O original das Escrituras se dá em três línguas: Aramaico, Hebraico e Grego. A cultura arraigada nela é a cultura hebraica e/ou helênica (no novo testamento especialmente nas cartas de Paulo).
Marcos escreve em grego “υἱός Μαριας” ou “huiós Maria”, etimologia de huiós se dá: hui = filho; ós = único, unigênito. Assim como quando se trata de sua origem divina “theós” - the = deus; ós = único, unigênito. Sendo assim, único filho ou filho unigênito de Maria. Assim como tratado como único Filho gerado de Deus ou único Filho de Deus. Se Marcos declara Cristo como filho único de Maria, por que então ele relata que este mesmo Jesus possui irmãos e irmãs? No grego “ἀδελφός” (adelfos) significa irmão. E agora? Calma, na cultura judaica os parentes próximos são tidos como irmãos e, aliás, não havia um vasto vocabulário para definir com exatidão cada grau de parentesco. A palavra “ἀδελφός” está inserida nas raízes da língua nata de seu escritor onde é comum tratar toda a parentela próxima como irmãos. Por exemplo, em Gênesis 14. 14-16 Ló é tratado como irmão de Abraão, porém sabemos que Ló é sobrinho de Abraão. Como explicita a bíblia que Ló era filho do irmão de Abraão, ou seja, seu sobrinho Gênesis 12.5. Não podemos portanto definir apenas com base no versículo isolado de Marcos 6 que Jesus possuía irmãos consanguíneos (deixando já claro que em nenhum momento a bíblia cita alguém como filho de Maria que não seja Jesus).
Analisemos agora quem eram estes irmãos de Jesus (Tiago, José, Judas e Simão) e o que temos a respeito deles. Um personagem que nos passa despercebido é Maria de Cléofas e seu marido Cléofas ou Alfeu (com variantes de tradução Cleopas, Cleofas, Clopas). Sendo Cléofas seu nome de origem aramaica e o nome Alfeu de origem hebraica, ambos com o mesmo sentido como era de costume se ter nomes similares na época (em aramaico "Claphai" e em hebraico "Halphai"). Em São João 19.25 ela nos é apresentada: "Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena." Aqui Maria de Cléofas é citada como irmã de Maria, mãe de Jesus. Temos em Mateus 27.56: "Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu." Em Lucas 6.12-16 temos a lista dos apóstolos segundo Lucas: "Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus. 13.Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos: 14.Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, 15.Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador; 16.Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor."
Veja, Tiago é apresentado como filho de Alfeu e Judas como seu irmão. Ambos são filhos de Alfeu ou concretamente podemos concluir que Tiago é filho de Alfeu e parente próximo de Judas, logo não é filho de Maria. Porém a outro Tiago que não foi relacionado quanto a sua parentela, em Marcos 3.16-19: "Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; 17.Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. 18.Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador; 19.e Judas Iscariotes, que o entregou." Aqui está citado outro Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João. Igualmente na demonstração anterior não há como ainda afirmar convictamente que Tiago e João sejam irmãos consanguíneos, mas sabemos que há um grau de parentesco próximo entre eles. Porém não podemos pressupor serem filhos dos mesmos pais.
Em Gálatas 1.19 São Paulo relata: "Três anos depois, subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias. 19.Dos outros apóstolos não vi mais nenhum, a não ser Tiago, irmão do Senhor." Irão me dizer que é deste Tiago que os evangelhos se referem como irmão de Jesus e não dos citados na lista dos apóstolos. Uma boa tentativa, mas perceba que Paulo relata Tiago como um dos apóstolos, ou seja, Tiago só poderia estar entre os doze para que seja apóstolo. Portanto, conectando todos estes textos temos que Tiago e José são filhos de Maria de Cléofas, e que Judas é parente próximo de ambos, assim como Simão só pode ser também ou irmão ou parente próximo dos demais. Não se pode concluir que estes seriam filhos de Maria, mãe de Jesus. Mas através desses textos encontramos a mãe consanguínea de Tiago e José além de provavelmente também mãe de Judas e Simão, esta é Maria de Cléopas irmã de Maria (aqui também há um grau de parentesco próximo). O mais provável é que esses irmãos sejam primos de Jesus. Historicamente e na Patrística, nos relatos dos primeiros cristãos e os grandes doutores da teologia da Igreja nos quatro primeiros séculos o mais aceito e confirmado em ensino é que todos eram filhos de Maria de Cléofas com o próprio Cléofas, que esta era irmã mais velha de Maria e assim os primos de Jesus eram mais velhos do que ele.
Agora, segundo a tradição judaica precisamos entender como eram os costumes no trato da primogenitura e da honra aos pais. Em Lucas 2.22-35 o evangelista relata a apresentação e a perda de Jesus no templo de Jerusalém perante os doutores da lei, não há qualquer relato de irmãos de Jesus o qual já estava com 13 anos. Era comum que toda a família subisse ao templo para apresentação do primogênito, é relatado que Maria e José procuraram o menino em meio a sua parentela mas não o encontraram. Então estava ali a família próxima de Cristo, mas apenas Jesus está sob a tutela de Maria por ser seu único filho.
Em João 2.1-11 temos as Bodas de Caná, onde Maria e Jesus com seus discípulos são convidados e novamente não há qualquer menção sobre outros filhos de Maria (não outro dito filho de Maria, senão Jesus Cristo). Como convidar a mãe, um filho e os discípulos deste filho mas não convidar os demais filhos da mulher? Parece bem improvável e seria um grande desrespeito à família para época.
Em João 19.26-27 "Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí teu filho”. 27.Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe”. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como sua mãe." Pela tradição e lei judaica quando uma mulher era viúva (José morreu entre a perda de Jesus no Templo e as bodas de Caná) caso ela ainda não tivesse filho seria desposada pelo irmão ou parente mais próximo de seu marido, mas se tivesse filho fica a encargo do primogênito os cuidados legais para com a mulher. Quando Jesus entrega Maria para seu discípulo João para que este cuide dela como sua própria mãe, percebemos que Maria não tinha ninguém mais para recorrer legalmente com a morte de seu único filho Jesus. Assim, Maria não tinha outros filhos e muito menos se casou novamente após a morte de José.
Maria permaneceu virgem por toda sua vida, pela graça e providência divina para que nela se cumprisse a vontade do Pai. Toda Santa e sempre Virgem Maria. Mãe de Deus, a Mulher. A nova Eva que gerou nosso Salvador, Jesus Cristo. Concebido pelo Espírito Santo. Entender a virgindade perpétua de Maria é fortalecer a fé no amor e graça de Deus que superabundou mais do que em todas as criaturas sobre esta que é a porta de entrada do Messias ao mundo, cheia de graça. Íntegra, toda de Deus. Ave Maria Santíssima. Como descreve São Luís Maria de Montfort: “Deus reuniu todas as águas e as chamou oceano, Deus reuniu todas as graças e as chamou Maria”.
Glória a Cristo, nosso Senhor!
Veja no catecismo católico:
§484-507