O sacramento do Batismo

O batismo, para a Igreja Católica, é um dos sacramentos de iniciação cristã, a entrada na comunidade cristã e no corpo de Cristo. Os sacramentos de iniciação são: batismo, confirmação e eucaristia. “A participação na natureza divina, dada aos homens pela graça de Cristo, comporta uma certa analogia com a origem, crescimento e sustento da vida natural. Nascidos para uma vida nova pelo Batismo, os fiéis são efetivamente fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e recebem na Eucaristia o Pilo da vida eterna. Assim, por estes sacramentos da iniciação cristã, eles recebem cada vez mais riquezas da vida divina e avançam para a perfeição da caridade” Catecismo da Igreja Católica. Eles são os alicerces para a vida cristã. O próprio Senhor Jesus demonstrou a importância do batismo ao se batizar no início de sua vida pública ministerial (Mateus 3.13-17) e o instituiu ordenando seus apóstolos a “irem por todo o mundo fazendo discípulos e os batizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” Mateus 28.18-20. Em síntese, o batismo é o sacramento da regeneração pela água e pela Palavra. Por mais simples que nos pareça a questão do batismo, não é uma questão pacificada no protestantismo, são diversas as interpretações e exegeses bíblicas para justificar doutrinas divergentes entre si. Algo absolutamente natural devido ao livre exame das escrituras, que fica refém da interpretação pessoal de um indivíduo ou de um grupo.

As principais divergências, ao menos são aquelas que mais percebo complicações a respeito, serão trabalhadas aqui para o esclarecimento da questão e demonstração da verdade existente na doutrina da Igreja Católica. São: a sacralidade do batismo, a idade para o receber, suas condições materiais ou naturais (rito), seus efeitos. Tentarei abordar ponto por ponto, certamente um invadirá o campo do outro já que estão interligados.

1. A sacralidade do batismo - o batismo é santo, instituído pelo próprio Cristo, Deus Filho. O velho testamento prefigura o batismo da nova aliança. As águas estão relacionadas ao Espírito Santo desde o princípio do pensamento humano, como vemos em Gênesis 1 quando o “espírito de Deus pairava sobre as águas”. A água simboliza principalmente o poder santificante do Espírito, que nos salva de uma vida de pecado, sem amor a Deus. A arca de Noé e o dilúvio são utilizados pelo apóstolo São Pedro para evidenciar esta prefiguração do batismo na antiga aliança, em 1 Pedro 3.19-21. A travessia do povo de Israel pelo mar vermelho e pelo rio Jordão para entrar na terra prometida, prefigura também o batismo. Todas estas prefigurações são realizadas em Jesus. Cristo inicia sua vida pública apenas depois de se fazer ser batizado por João Batista. Nosso Senhor se sujeitou voluntariamente ao batismo destinado aos pecadores para cumprir toda a justiça e o Espírito Santo que pairava sobre as águas na criação desce sobre Cristo com prelúdio na nova criação, da nova aliança. A cruz de Cristo, sua morte e ressurreição é uma evidência perfeita da realidade do batismo. É o que ensina São Paulo Apóstolo na carta aos Romanos 6.3-4 ”Todos nós, que fomos baptizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova”. A Igreja batizava, obedecendo a Cristo, desde o princípio como vemos em Atos dos Apóstolos. Pessoas de todo tipo, adultos ou crianças de todas as idades. Assim, passemos ao próximo tópico;

2. A idade para receber o batismo - não há idade certa, nem errada para receber o batismo. Por certo, é desejável recebê-lo o quanto antes. Em Atos 16.33 Paulo e Silas batizam o carcereiro e toda a sua família. Também em Atos 10.48 é batizado Cornélio e toda a sua casa. Sabemos que crianças fazem parte da família, independente de sua idade, é simples concluir que as crianças também eram batizadas junto com sua família para ingressarem na comunidade e vida cristã. Sustentadas pela fé dos pais e de toda a Igreja, corpo de Cristo. Nos explica o catecismo: “Nascidas com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original, as crianças também têm necessidade do novo nascimento no batismo para serem libertas do poder das trevas e transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus, a que todos os homens são chamados. A pura gratuidade da graça da salvação é particularmente manifesta no batismo das crianças. Por isso, a Igreja e os pais privariam, a criança da graça inestimável de se tornar filho de Deus, se não lhe conferissem o batismo pouco depois do seu nascimento”. A Igreja não quer que ninguém morra sem receber o batismo, desejo herdado dos apóstolos que de imediato buscaram batizar os novos convertidos e toda sua família quando possível. Só não pode ser batizado, aquele que já foi batizado, pois o batismo é apenas um de uma vez para toda a vida do batizado. Na antiga aliança o sinal era a circuncisão onde de maneira alguma a criança necessitava de exercer razão ou consentimento, na nova aliança temos o batismo que exerce similar função porém de forma muito superior em todos os âmbitos como exemplifica São Paulo em Colossenses 2.11-12 "Nele também fostes circuncidados com circuncisão não feita por mão de homem, mas com circuncisão de Cristo, que consiste no despojamento de nosso ser carnal. Sepultados com Ele no batismo, com Ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos". Fica claro aqui que, assim como na velha aliança uma criança era circuncidada sem qualquer possibilidade de seu consentimento, o batismo se aplica também a crianças e também em pessoas incapacitadas de exercer a razão. Pois a estes lhe são dada a graça através da Igreja de Cristo como diz Santo Agostinho "a nossa Mãe Igreja oferece as crianças os pés dos outros para que caminhem, o coração dos outros para que creiam, a língua dos outros para que confessem. É assim que as crianças creem, não por ato próprio, mas pela fé da Igreja que lhes é comunicada de forma sobrenatural, sacramental. E pela força dessa fé são conferidas as graças e as virtudes" que implicam o batismo. É tradição cristã o batismo de crianças desde o princípio, como podemos constatar nos escritos da Patrística. Vejamos alguns exemplos:

• Santo Irineu de Lião (140-200 d.C) “Jesus veio salvar a todos os que através dele nasceram de novo pelo batismo de Deus: os recém nascidos, os meninos, os jovens, os velhos.”

• Orígenes, bispo de Alexandria (184-285 d.C) “A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de batizar também os recém nascidos.”

• Cipriano de Cartago (210-258 d.C) “Do batismo e da graça não devemos afastar as crianças”

3. O rito e materiais utilizados no batismo - em Mateus 28, Nosso Senhor Jesus ordena seus discípulos a batizarem em nome da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Com o exemplo do próprio batismo de Cristo realizado por João Batista como escrito em Mateus 3, temos os moldes do rito, os elementos e ações básicas necessários para o recebimento deste sacramento. Temos João Batista (profeta e sacerdote, designado por Deus para tal), Jesus Cristo (representando o novo convertido, o cristão, a Igreja que se inicia na vida divina com o Filho que é Jesus), a água (representando o Espírito Santo que santifica o batizado) e para complementar se pronuncia este ato em nome da Santíssima Trindade como Cristo ordena. Portanto, temos a Santíssima Trindade presente no sacramento por representação nas figuras do sacerdote, do batizado e da água. Entretanto também em verdade, nas palavras ordenadas por Cristo, a Trindade opera ali o milagre do batismo. O batismo pode ou não ser antecedido pelo catecumenato, como praticavam os primeiros cristãos em conformidade com a tradição da Santa Igreja. Uma boa demonstração histórica que temos do aprendizado da doutrina e fé cristã ainda no século I d.C é a Didaqué. Foi muito comum no início da Igreja, as pessoas serem batizadas logo após aceitarem Cristo como senhor e salvador, sendo após disto acompanhadas e catequizadas para pleno conhecimento da fé. Um rito sem essas condições é incompleto, porém isto não o torna inválido. Exemplo de rito incompleto mas válido: a falta de um sacerdote ordenado por Deus que escolheu isto fazer através da sucessão apostólica. Exemplo de rito incompleto e inválido: o não reconhecimento da Santíssima Trindade, seja por negar sua existência ou por descrença de que ela ali opera. A forma em que a água é utilizada seja por imersão, aspersão ou efusão são todas válidas por aquilo que representa e não puramente pelo ato material em si. Não existindo uma mais ou menos correta que a outra. Foi praticada preferencialmente a imersão, atualmente a Igreja se utiliza da aspersão. Nos escritos da patrística encontramos diversas menções dos autores ao batismo por imersão, até pela própria simbologia por representar a morte para o velho homem que desce ao sepulcro de Cristo e ressuscita com Cristo como uma nova criatura. Todavia, como atesta a Didaqué, nenhuma das formas é ilícita ou ineficiente. O que caracteriza este aspecto do batismo é a água que toca a cabeça do batizado, não a quantidade desta. Também era de costume nos ritos judaicos, na antiga aliança, a utilização da aspersão para a purificação. E permaneceu sendo comum na Igreja a aspersão ou a efusão, em Atos 10, Cornélio e sua casa provavelmente foram batizados desta maneira devido às condições do local que se encontravam, dentro de sua própria casa. As imagens pintadas nas paredes das catacumbas cristãs também demonstram largamente a utilização comum destas maneiras de batismo.

4. Os efeitos do batismo - são muitos os efeitos do batismo, ressaltamos os efeitos imediatos. Caso me esqueça de algum efeito deixe um comentário sobre neste post logo abaixo.

• nos faz participar da morte e da ressurreição de Cristo (Romanos 6.3-5)

• nascer de novo no Espírito Santo (Tito 3.5)

• ser liberado dos pecados, tanto os pecados pessoais quanto o pecado original. Somos completamente regenerados para uma vida em Deus (Atos 2.38)

• ser arrancado do mundo das trevas e do domínio do diabo, tendo sua prefiguração em Êxodo 13 quando o povo de Israel saiu do domínio de faraó em direção ao mar vermelho rompendo com a escravidão no Egito para uma nova vida na terra prometida por Deus. Assim também o batizado é retirado do domínio do pecado e deste mundo, para uma nova vida no reino de Cristo.

• tornar-se membro do Corpo Místico de Cristo, membro da Igreja (Efésios 4.25; 1 Coríntios 12.13; 1 Pedro 2.5)

• tornar-se filho de Deus por adoção, somos feitos filhos de Deus em Cristo, filhos no Filho Unigênito do Pai.

“O santo batismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no Espírito («vitae spiritualis ianua – porta da vida espiritual») e a porta que dá acesso aos outros sacramentos. Pelo batismo somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus: tornamo-nos membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados participantes na sua missão” Catecismo da Igreja Católica

Louvado seja aquele que instituiu os sacramentos, em especial o batismo, Cristo Jesus Nosso Senhor!

Confira no catecismo

https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1210-1419_po.html