top of page

O Católico é Idólatra?

  • Foto do escritor: ocatecumeno
    ocatecumeno
  • 1 de set. de 2021
  • 7 min de leitura

Atualizado: 14 de dez. de 2021

Não tenho dúvidas de que, em nosso tempo, a crítica mais constante feita aos católicos por parte de nossos irmãos separados e por vezes também por iniciantes na fé se direciona a respeito da veneração aos santos. Tido como idolatria pelos protestantes. Infelizmente há uma grande ignorância em relação ao tema e uma série de desvios históricos que conjecturam este espantalho criado para atacar a Santa Igreja. Precisamos estudar e entender alguns pontos que irão nos auxiliar para concluir algo sobre a devoção aos santos.


Primeiro entendamos o que é idolatria. Em Êxodo 20, nos dez mandamentos lemos: “não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra”. Lei dada pelo próprio Deus através de Moisés.

Colocar qualquer coisa no lugar de Deus, tratar e honrar qualquer coisa como divina exceto a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) é idolatria. A imagem por si só não é um ídolo, para se tornar um ídolo é necessário que o homem lhe enxergue como intrinsecamente divino e direcione sua adoração à ela. Podem ser elementos da criação, animais, pessoas, astros etc. Não é preciso que seja uma escultura, pode ser até mesmo a foto de um cônjuge, filho, ente querido, um famoso. Tudo, absolutamente tudo, que em minha vida esteja sendo adorado no lugar do divino aí está o ídolo. Inclusive, o próprio eu pode ser um ídolo (o que não é raro de ver em nossos dias, pessoas que vivem unicamente para satisfazer seus prazeres e vontades). E ainda, acredito ser o mais comum e extravagante, o Estado … como as pessoas divinizam o Estado Democrático de Direito e os políticos com quem simpatizam. Não nos esqueçamos dos times de futebol, há aqueles que matam e morrem por clubismo.


Bom, o que seria então adorar? Antes de tudo, é reconhecer algo ou alguém como divino. Razão e motivo de sua existência, digno de toda sua submissão e entrega. Portanto, em sua essência a idolatria consiste em divinizar aquilo que não é Deus. A idolatria é gravíssima pois ao mesmo tempo que se adota um falso deus, se rejeita o Deus verdadeiro.


Quanto às imagens, temos exemplos de imagens que o próprio Deus ordenou ou permitiu para conduzir seu povo simbolicamente à salvação pelo Verbo encarnado. A serpente de bronze (Números 21.8), a arca da aliança e os querubins (Êxodo 25.10-21). Perceba que toda imagem sagrada ou religiosa cristã, desde o povo judeu até a atualidade, tem por finalidade conduzir a salvação em Jesus Cristo. Este Cristo que se fez carne, palpável, se fez imagem aos homens. O fim da imagem é Cristo, são os méritos de Cristo por ter feito tão grande obra na vida daqueles representados em imagens católicas. Vidas ali veneradas e louvadas com profunda admiração que encorajam à uma vida de santidade e pleno amor à Deus.

Chamamos o culto a Deus de latria (adoração), o culto aos santos de dulia (admiração, devoção, sempre com destino nos méritos de Cristo pelo que fez na vida dos santos) e o culto a Virgem Maria de hiper-dulia (por ser a mais perfeita das criaturas de Deus). Todas as imagens e todo santo é uma seta que aponta para Cristo, a vida de qualquer santo nos encoraja e incomoda profundamente para uma vida plena em amor à Santíssima Trindade. Eis o porquê da devoção aos santos. Quando Cristo encarna, ele nos brinda com uma nova economia das imagens, ao se fazer imagem para salvação da humanidade e toda criação.

As primeiras imagens cristãs datam do século II, nas catacumbas cristãs, em suas paredes temos imagens de Maria com o Menino Jesus, O Bom Pastor com ovelhas, Jonas e a baleia, o cálice e o pão da eucaristia, o peixe que representa Cristo, a cruz entre outras imagens. Uma fonte bibliográfica para tal: Daniel Rops - História da Igreja Apostólica e dos Mártires. Ou uma busca rápida na internet temos pesquisas arqueológicas que confirmam tais datas e imagens (a chamada arte paleocristã). A devoção e veneração de santos ou de suas relíquias (objetos usados pelo santo ou até mesmo seu corpo, evidentemente após a morte deste) se dá nos primórdios da Igreja, ainda primitiva, à exemplo de Santo Inácio de Antioquia (viveu ainda no século I entre aproximadamente 30-107 d.C) que nos deixou uma epístola onde deseja o martírio para glorificar a Deus participando do sofrimento por amor à Cristo se declara “trigo de Cristo, moído nos dentes das feras” e ainda conforta seus irmãos cristãos prometendo orar por eles no céu “Meu espírito se sacrifica por vós, não somente agora, mas também quando eu chegar a Deus. Eu ainda estou exposto ao perigo, mas o Pai é fiel, em Jesus Cristo, para atender minha oração e a vossa. Que sejais encontrados nele sem reprovação”. Inácio era bispo de Antioquia, sucessor do apóstolo São Pedro que havia ido para Roma décadas antes onde também foi martirizado. Os cristãos guardavam e veneravam desde já as relíquias e imagens destes notáveis mártires que tanto amaram ao Senhor.

Santo Tomás de Aquino nos ensina combatendo a heresia daqueles que condenavam as imagens na Idade Média e diziam ser idolatria como as imagens dos pagãos: “O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem.”


Quanto à intercessão dos santos, é necessário compreender como se manifesta a Igreja de Cristo. Podemos dividi-la em três partes:

Igreja Militante ou Peregrina - são os filhos de Deus e filhos da Santa Igreja, salvos, pecadores ou santos que ainda vivem na terra;

Igreja Penitente - aqueles que morrem em amizade com Deus, já salvos. Estão no purgatório sendo aperfeiçoados pelo Espírito Santo, edificados em santidade para pleno amor à Deus. A única saída do purgatório é o céu. Em outro artigo irei tratar especificamente sobre este tema;

Igreja Triunfante - são os santos, aqueles que já estão na glória com o Pai.

Cremos que a Igreja é uma só, uma unidade, realidade indivisível, Corpo Místico de Cristo. Todo homem salvo faz parte da Igreja Católica, ainda que este não a reconheça por ignorância ou por desconhecimento doutrinal e histórico. Porém apenas na Igreja Católica há plena comunhão com Cristo, que é o cabeça da Igreja e tudo provém dEle, depende dEle, é para glória dEle e aponta para Ele. Cristo instituiu a Igreja física e espiritual como tudo o que faz ao homem, pois a realidade humana não pode compreender apenas o espiritual antes depende do âmbito físico para se orientar (por isso também Nosso Senhor nos ensinou em parábolas). Como cabeça, é Cristo quem delega todas as questões da Igreja e compartilha com ela suas funções ou seu poder, somos cooperadores de Jesus (1 Coríntios 3.9). Por isso, um irmão pode interceder pelo outro e intermediar (mesmo sabendo que a escritura nos diz que somente Ele é intermediador entre Deus e os homens 1 Timóteo 2.5 pois a Igreja e seus membros são um em Cristo) como nos orienta São Tiago 5.16 e 1 Timóteo 2.1 tudo se inicia e termina em Cristo, por meio dEle e para Ele, como disse em João 15.5 “sem mim nada podeis fazer”.

A Igreja é indivisível e se comunica, são todos irmãos vivos ou mortos, pois não há separação de Deus. Nada pode separar a Igreja do amor do Pai que está em Nosso Senhor (Romanos 8.38-39). Em 2 Macabeus 15.11-15 temos relato de intercessão daqueles que estão no céu e também em Apocalipse 8.1-5 temos relato de anjos que levam as orações dos santos, já no céu, perante o Pai como incenso. Em Êxodo 32 Moisés intercede diante de Deus em prol do povo que havia cometido idolatria e blasfêmia. Em 2 Reis 13.21 um homem ressuscitou após ser lançado na sepultura de Eliseu e tocar em seus ossos, demonstração de uma relíquia. Em toda a Escritura temos relatos de intercessão e intermediação feita por homens, evidente que nos méritos do Verbo encarnado, ainda que no velho testamento, pois todos apontam para o Cristo. Ele atende a oração de seus filhos tanto na terra quanto no céu. Porém no céu, livres de toda imperfeição pelos méritos e graça alcançados em/por Cristo, se dirigem a Deus perfeitamente em plena comunhão e amor. Diferente de nós Igreja Peregrina que ainda possuímos imperfeições, apesar da Igreja enquanto Corpo de Cristo ser imaculada e santa (seus filhos pecam, a Igreja não). O catecismo católico também nos ensina: § 956 “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por seguinte, pela fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio”.


Desafio aqueles que acusam a Santa Igreja de idolatria, que mostre um registro oficial, um documento, um catecismo ou doutrina católica que ensine e oriente o homem para adoração de qualquer coisa que não seja a Santíssima Trindade. Os santos apontam para Cristo, encorajam para uma vida santa, para o amor à Deus e ao próximo. Se ajoelhar diante de uma imagem, acender uma vela, reverenciar, fazer procissões … tudo isto é lícito; pois a intenção e o fim último estão naquele que é digno de honra e faz digno seus filhos. Se algum católico diviniza imagens, este comete grave pecado e está completamente distante do ensino da Igreja. Convido todos ao estudo da história da Igreja, da sucessão apostólica (especialmente dos livros da patrística), é impossível permanecer indiferente ou rude para com a Igreja ao conhecê-la.


As maravilhas e o amor de Deus se expressam de maneira ímpar quando percebemos tamanha glória e graça que há na unidade e comunhão da Igreja com Cristo, cabeça e Senhor, mediador de todas as ações através de seus filhos. Toda honra e toda glória a Ele para sempre, amém.



Recomendação para estudo da doutrina católica a respeito do tema:

Catecismo Católico §2084-2132


Comments


bottom of page