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Minha Conversão - do protestantismo ao catolicismo

  • Foto do escritor: ocatecumeno
    ocatecumeno
  • 27 de out. de 2021
  • 9 min de leitura

Não há nada mais importante e mais essencial na vida de um ser humano do que sua espiritualidade, sua vida com Deus. Há quem possa discordar. Todavia, o homem que está em Deus se faz completo independente de qualquer outra nuance da vida. Por isso, resolvi dar um breve testemunho de como se deu a minha conversão ao catolicismo.

Já nasci inserido na fé em Cristo, porém ainda de maneira imperfeita. Protestante de berço, calvinista para ser mais específico. Por 26 anos me dediquei a Cristo e vivi no meio protestante, cresci e construí meu pensamento e maneira de viver enraizado em seu ensino. Cerca de quatro anos atrás começou a despertar em mim a curiosidade de conhecer o catolicismo, creio que por causa de debates teológicos e filosóficos na internet. Onde por vezes os cristãos acabavam por se misturar e se unir contra o mundo, até mesmo politicamente. Via o católico como um aliado que deveria eu o levar para a verdade protestante.

Hoje, quando olho para um protestante, observo aquilo que se encontrava em mim antes de minha conversão ao catolicismo. Havia em mim uma aversão a tudo na Igreja Católica, grande parte porque assim fomos educados no meio religioso em que vivemos. Quando uso o termo religioso me refiro a religião cristã protestante em si, não com um aspecto negativo. Aprendemos mentiras sobre a Igreja Católica, aprendemos a rejeitar, aprendemos a negar qualquer possibilidade de que haja verdade em algo que provenha dela, aprendemos uma falsa história, amamos falsos heróis, seguimos uma falsa doutrina, ridicularizamos o espantalho que só existe em nossa visão deturpada, longe da verdade e sem conhecimento histórico aprofundado algum. Por mais que a realidade se imponha com o contraditório, simplesmente se rejeita os fatos para permanecer fiel a uma crença ideológica que vai moldando cada fato a sua própria perspectiva. Não nos propomos ao estudo da história da Igreja, exceto de livros que corroborem para nossas narrativas, claro.

Uma vez solicitei ao pastor de uma igreja presbiteriana a qual era membro, pela qual nutro carinho e rezo por meus irmãos que lá estão, livros sobre a história da igreja e do cristianismo em geral. Foi no início de minha vontade por conhecer ainda mais sobre a fé e estar bem embasado e enraizado nela para levar as pessoas a verdade, a salvação em Cristo Jesus e para defender a fé perante o mundo. Queria também trazer os católicos para a verdade, me desperta risos dizer isto hoje, mal sabia que era eu quem necessitava ser conduzido para a verdade e que um ferrenho protestante se tornaria um católico. Isto há cerca de três anos atrás.

Os livros que me foram passados, para minha decepção, não passavam de cartilha protestante e eu o percebi mesmo sendo protestante de tão bizarro que se eram os textos, ainda que querendo acreditar naquilo. Além de serem muito fracos intelectualmente para leitura de uma pessoa adulta. Isso me gerou desânimo e, ao mesmo tempo, um certo contentamento sobre o que eu já conhecia. O que me fez, por hora, desistir da leitura aprofundada sobre o tema.

Alguns questionamentos me vieram à mente, especialmente sobre o cânon bíblico, me indaguei sobre o por que de ter aqueles sete livros para mais na bíblia católica que são rejeitados pelas igrejas protestantes.

Na igreja presbiteriana, participei de uma aula na escola dominical sobre o cânon bíblico. E até então meu conhecimento era muito raso, apesar de minhas muitas dúvidas e intrigas a respeito. Não havia estudado nenhum conteúdo satisfatório, talvez alguns poucos vídeos no YouTube. Nesta aula me foi apresentado que São Jerônimo, tradutor das Escrituras para o latim conhecida como Vulgata, discordava da Igreja Católica a respeito dos sete livros deuterocanônicos serem inspirados e se revoltou contra a Igreja. Uma meia verdade, uma parte da história e não toda ela. Não me contaram que São Jerônimo se submeteu a decisão da Igreja e não só aceitou os livros, como os defendeu e os ensinou convictamente. Continuando a aula, nos foi apresentado trechos dos livros, versículos retirados de seu contexto. Alegando haver no livro de Tobias, por exemplo, uma ordenança do Anjo Rafael para que ele praticasse feitiçaria utilizando um peixe para expulsar maus espíritos e doenças. Aquilo me fez encerrar o propósito de estudar o catolicismo. Constatei que era uma heresia absurda, uma afronta a Deus e que não havia necessidade alguma de conhecer aquilo pois tudo ali era uma grande mentira. Pensei ser esta aula um livramento de Deus, pobre alma! A aula não passava de uma artimanha do diabo para me desviar da verdade e me fazer permanecer no engano.

Em diversos altos e baixos observando diversas contradições lógicas no meio protestante, eu continuava a me sentir profundamente incomodado com as razões da fé. Optei por estudar o mínimo que fosse sobre todas as religiões que considerei necessário para levar pessoas a Cristo.

Entrei na internet, no gracioso YouTube, e passei a acompanhar vídeos dos argumentos de todas as partes (católico, ateu, umbanda, espírita, desigrejado, protestante, pentecostal, calvinista, batista, judeu, islâmico) tudo o que podia ouvir e ver eu assistia e comparava as argumentações dentro de pontos lógicos presentes na realidade, que faziam sentido. Isto foi me prendendo ao catolicismo e eu me esforçava o máximo, lutava mesmo, para permanecer protestante calvinista. O catolicismo simplesmente sempre dava uma lavada nas demais religiões, tanto na razão quanto na fé. Acabei mergulhando em diversos livros também.

Não citarei os canais das demais religiões pois a elas não quero dar visualização, mas cito três grandes homens que foram usados por Deus por meio da internet para a minha conversão. Os canais são: Padre Paulo Ricardo, Conde Loppeux e Dom Henrique Soares (bispo falecido recentemente por Covid-19, que Deus o tenha). A eles devo muito. Aos demais devo também, pela inconsistência de seus argumentos fora de uma realidade histórica que me obrigaram a estudar ainda mais seriamente os assuntos.

A partir daí, por cerca de dois anos, fiquei titubeando. O protestantismo não me convencia totalmente, mas isto é natural. Pois o próprio protestante não pode crer que um templo é a igreja verdadeira, antes se crê na igreja "espiritual" que é subjetiva e nada liga esta igreja que não seja Cristo, ou seja, a igreja espiritual comporta todos os salvos (uma outra meia verdade). Apesar das milhares de denominações protestantes discordarem em pontos essenciais da fé e acabarem por crer cada uma em um tipo de cristo, dizem ter unidade nEle, uma contradição performática.

Em um ano passei a ler diversos livros teológicos, filosóficos e históricos da religião cristã no geral. Fontes de peso, acadêmicas, reconhecidas. Isso me fez capotar pra dentro do catolicismo. Utilizo a palavra capotar, pois é como se não houvesse para mim escolha alguma que não fosse esta. Realmente era um carro capotando à mercê de onde o veículo decidisse parar. Sem mais delongas, fui conduzido pelo Espírito Santo para a verdadeira Igreja de Cristo.

No estágio final, quando estava para decidir em sair da igreja protestante, me prestei ao último esforço de me convencer de que Cristo havia nos chamado para o protestantismo. Me reuni com o pastor da igreja a qual fui membro e conversei com ele sobre, como eu esperava, de pronto já me apresentou vários chavões protestantes contra o catolicismo que com simplicidade expliquei que não era da forma que ele dizia. Ele me desafiou ao estudo da história da igreja e me indicou um livro, o qual me empenhei em ler para quem sabe assim me ver livre do problema que era para mim me tornar católico, essa iminente possibilidade me causava uma ansiedade descomunal. Havia em mim uma grande batalha interna querendo fortemente me livrar do catolicismo, era como um último pedido de ajuda para que alguém estendesse a mão e me puxasse de volta para o calvinismo.

Fui ler o livro, logo no início já me deparo com coisas medonhas. Aquela lógica mirabolante, tanta mentira trabalhada, tanto viés, tanta ideologia nas narrativas que me insultavam a inteligência a cada página lida. Foi uma experiência terrível. Este livro foi como uma ofensa à racionalidade, um tratado para a ignorância, não compreendia o que levava alguém a se prestar a tal trabalho para escrever um livro tendencioso com narrativa viciada. Um livro de caráter histórico, como se dizia pretender ser, necessita de contar os fatos e ordená-los relatando o ocorrido. O autor não contava a história, ele contava aquilo que ele queria contar do jeito que ele queria acreditar e interpretar dentro de um padrão pré definido aquém dos fatos. Uma mente que me pareceu limitada e presa dentro de uma bolha. Exemplo “os cristãos eram fracos, tíbios na fé, se esqueceram das palavras de Cristo e de viver a fé no coração. Passaram a viver um racionalismo da fé e não em amor”, isto no segundo século, apenas uma geração após os apóstolos. Na próxima página falando sobre o mesmo período: “o número de cristãos só aumentava, apesar da violência do império, quanto mais se aumentava o número de mártires maior era o número de novos convertidos e de grandes pessoas na fé, o cristianismo triunfava sobre o império”. Que? Já me perguntei na hora, como assim? Isso não faz sentido algum. Se os cristãos abandonaram a fé, por que ainda morriam por Jesus e se tornavam testemunha para salvação de muitos? De imediato tomei desgosto pelo livro, pois identifiquei uma clara intenção da tentativa de criar uma igreja abstrata presente em uma dimensão paralela e não algo concreto presente na realidade, palpável e não subjetivo como sentimentos. “Eles já não ardiam com fé no coração, mas pela pura razão”, como pode falar assim de pessoas que não exitaram em perder a própria vida, de maneira violenta, por amor a Cristo? Ele separa na história alguns grandes nomes do cristianismo e fala tudo ao contrário do que essas pessoas escreveram, para favorecer a própria narrativa dele. Simpatiza com as heresias da época que foram terríveis para o cristianismo simplesmente porque se opunham a Igreja Católica, como o Albigenses ou Cátaros, que condenavam a matéria como uma criação do deus mal do antigo testamento. Foram conclusões assim que foram me empurrando de vez para o catolicismo e para o estudo de livros acadêmicos, históricos, fidedignos e objetivos com a realidade. O nome do livro é História da Igreja Cristã, autoria de Jesse Lyman Hurlbut.

Elaborei e concluí um comentário sobre o livro, argumentando contra os pontos ilógicos que o autor ia colocando na história dele. Disponho aqui o link para interessados.


G. K. Chesterton sobre sua conversão ao catolicismo relatou ocorrerem três passos aos quais geralmente o protestante experimenta neste processo e os utilizo aqui para convidar todos a Igreja de Nosso Senhor:

  1. Dedicar atenção a Igreja Católica com justiça - o mais importante, estudar e conhecer a Igreja dando uma chance para ela e para si de poder fazer isto honestamente. Buscando a realidade dos fatos e não buscando moldar tudo de acordo com a cosmovisão que você acredita ou pelo espantalho diabólico que você acredita ser a Igreja. Decida ser justo com a Igreja;

  2. Descobrir a Igreja Católica - fazendo isto, é impossível não se admirar com tamanha grandeza e demonstração da graça, misericórdia, cuidado e amor de Deus sobre a humanidade através da Igreja. Se deslumbra todas as maravilhas presentes nela, o Corpo místico de Cristo;

  3. Fugir da Igreja Católica - este passo é muito engraçado e, por mais estranho que pareça, é muito real. Ao se deparar com a verdade, com Cristo na Igreja, com tudo aquilo que você odiava sendo muito o contrário do que imaginava e muito do que se cria firmemente ser abalado perante a Sã Doutrina. Você simplesmente quer fugir da Igreja, de todas as maneiras você quer rejeitar aquilo e readmitir a sua antiga fé, provar que estava certo e busca por refutar e derrubar tudo o que a Igreja lhe apresenta. Porém isto se torna impossível, um esforço em vão. É como um rapaz apaixonado que não pode conter o acelerar de seu coração e os calafrios ao estar próximo de sua amada.


Assim se deu a minha conversão, por mais que nós rejeitemos a Deus, Ele com sua maravilhosa graça nos conduz para a vida eterna em Cristo Jesus. Mais do que feliz é aquele que O ouve e O segue. Claro que não simplesmente por um esforço humano, mas pela imensa graça de Deus sobre mim, seu Santo Espírito me conduziu a verdade que é Cristo. Sou grato a Deus pois muito me esforcei para permanecer no engano. Porém muito mais Ele se empenhou por mim, para que eu hoje estivesse na verdadeira Igreja e pudesse viver em Cristo na plenitude da revelação.

Como eu, sei que milhares de pessoas também foram levadas ao catolicismo de uma maneira semelhante. Talvez por isso, o santo que mais me atraiu para Igreja e para meu Senhor Jesus foi Santo Agostinho de Hipona. E meu irmão, Scott Hahn, tem sido um ótimo professor em seus livros. É maravilhoso como a Igreja é unida e nossos irmãos nos ajudam a uma vida piedosa ainda que não estejam mais no plano terrestre, afinal nada nos separa do amor de Deus que está em Jesus Cristo.


Que meu testemunho seja para a salvação das almas. Para glória de Deus Pai, em Cristo Jesus seu Filho na unidade do Espírito Santo. Amém!


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