A Arca da Nova Aliança
- ocatecumeno
- 15 de out. de 2024
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É ponto pacífico para todo cristão que Jesus Cristo veio ao mundo para nos livrar da morte eterna, nos redimindo através de seu sacrifício na cruz para, unidos a Ele, nos salvar. Diversas qualidades da antiga aliança são renovadas exponencialmente por Cristo, cito algumas:
A circuncisão é substituída pelo batismo - na carta de São Paulo aos Colossenses 2.11-12 o apóstolo diz “Nele também fostes circuncidados não pelas mãos de homens, mas com a circuncisão de Cristo, que consiste no despojamento de nosso ser carnal. Sepultados com Ele no BATISMO, com ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos”. A própria aliança feita com Abraão se estendeu para toda criatura humana, já que a circuncisão iniciou em Abraão.
Os dez mandamentos foram aprimorados para um nível ainda mais elevado de exigência: o amor (caridade). No evangelho segundo São Mateus 22.36-40 “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo”.
O sábado é substituído pelo Domingo, pois foi esse o dia em que Nosso Senhor Jesus ressuscitou. Em Atos dos Apóstolos 20.7 “No primeiro dia da semana (domingo), estando nós reunidos para partir o pão…”
De igual maneira, se deu com a Arca da Aliança, a representação mais gloriosa da presença de Deus para o povo judeu. Objeto o qual recebia veneração mais elevada que qualquer outro. Nem mesmo Moisés, o maior dos homens do antigo testamento, ousava pisar no Santo dos Santos onde estava a Arca da Aliança, solo sagrado devido à nuvem de glória que cercava a Arca. Por volta de 587 a.C a Arca foi perdida, por ordem do profeta Jeremias ela foi escondida em uma caverna para evitar a sua corrupção pelas mãos dos babilônios que estavam prestes a invadir o Templo. Todavia, os homens que a esconderam já não podiam mais encontrar o caminho e o profeta Jeremias declarou inspirado por Deus que ela só seria encontrada novamente quando o Senhor se utilizar de misericórdia para com os homens, então se revelará a Arca manifestando a glória de Deus (2 Macabeus 2.5-8).
Voltaremos a ver novamente a Arca da Aliança no livro de Apocalipse de São João capítulo 11, onde ele descreve a Arca envolta pela glória de Deus, já no final do capítulo e logo em sequência, no capítulo 12 o apóstolo relata: “Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores”. Vale ressaltar que o texto não foi escrito com as divisões de capítulos e versículos que fazemos em nosso tempo. João escreveu um relato corrido, ou seja, se trata da mesma visão. São João nos apresenta a Arca da Nova Aliança, uma mulher.
Quem é essa mulher que aparece como a Arca? Em primeiro nível, podemos dizer ser a Igreja também chamada de noiva do Cordeiro nas cartas paulinas, que trabalha para dar a luz a seus filhos em todas as épocas. Porém, dando sequência ao texto Apocalipse 12:5 fala do filho varão que essa mulher está para dar a luz, o qual irá governar as nações com cetro de ferro e que essa criança será arrebatada para Deus e seu trono. Uma clara representação de Jesus Cristo. Outro personagem evidente é Satanás, o dragão, a antiga serpente citada em Gênesis, sedutor do mundo inteiro que procura ferir a mulher e seu filho (Apocalipse 12.9). Até então, todas as figuras citadas por João são pessoas, por que seria diferente com a Mulher? Ora, o mesmo apóstolo trata de colocar em seu evangelho situações em que o próprio Jesus trata uma pessoa somente como Mulher: a Virgem Maria. Fazendo uma clara alusão a mulher de Gênesis, Eva, mãe de todos os viventes. Mais ainda se referindo a Mulher prometida pelo próprio Deus no Éden, o conhecido protoevangelho Gênesis 3.15. Claramente, João pretende relacionar a mulher do apocalipse, a mulher da promessa de Gênesis, a Eva (mulher/varoa), a Arca da Aliança a uma só pessoa: a Virgem Maria.
No evangelho de São Lucas temos uma ótima demonstração dessa realidade. Ainda no primeiro capítulo, Maria visita sua prima Santa Isabel. A linguagem utilizada por Lucas é idêntica à narrativa das viagens do rei Davi ao trazer a Arca da Aliança para Jerusalém, no livro de 2 Samuel. Observe, Davi “levantou-se e foi” (2 Samuel 6.2). O relato de Lucas se dá com exatas palavras, Maria “levantou-se e foi” (Lucas 1.39). Na viagem, Davi e Maria passaram igualmente pelas regiões montanhosas de Judá. O rei Davi reconhece a sua indignidade perante a Arca “como pode que a arca do Senhor venha me visitar?”. Essas palavras ecoam no evangelho de São Lucas através de Isabel: “Donde me vem que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” Do hebraico Adonai no antigo testamento e do grego Kyrios no novo testamento, ambos termos usados para se referir ao Senhor Deus. A única diferença essencial da frase é que a palavra arca é substituída por mãe. Lemos que Davi dançou de alegria na presença da arca (2 Samuel 6.14-16), e com expressão similar São João Batista pulou no ventre de sua mãe com a chegada de Maria (Lucas 1.44). Por fim, a arca permaneceu três meses na região montanhosa, o mesmo período de tempo que Maria passou com Isabel.
Os pais da Igreja como Santo Ambrósio, Santo Agostinho, Santo Efrém e Santo Irineu interpretam nessa passagem a mulher do Apocalipse 12 evidentemente como sendo a Virgem Maria, tradição que remonta aos doze apóstolos visto que vemos a destreza com que São João vincula a mulher de Apocalipse a mesma pessoa de Maria, a qual aparece no céu como rainha coroada por estrelas. Os primeiros cristãos, portanto, dão forte testemunho dessa identificação de Maria.
Ainda em Lucas 1.35 “O Espírito de Deus descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra”, mesma expressão utilizada no livro de Êxodo para descrever a presença e glória de Deus preenchendo o tabernáculo do Santo dos Santos onde estava a Arca, a morada de Deus (Êxodo 35). Maria é a mais perfeita tenda de Deus, o tabernáculo, a morada de Cristo.
Para sacramentar a questão, comparemos diretamente o que a Arca da Aliança portava e o que Maria portava:
Se a arca continha a Palavra de Deus nas tábuas dos dez mandamentos, o corpo de Maria continha a Palavra de Deus encarnada. Se a arca continha o maná que desceu do céu, Maria continha o próprio Pão da Vida que desceu dos céus e venceu a morte para sempre. Se a primeira continha o cajado do primeiro sacerdote do povo, Maria continha a própria pessoa do sacerdote eterno, Jesus Cristo, Deus Filho. De fato, a Santíssima Virgem Maria é digna de muito mais honra do que a Arca da Antiga Aliança, arca esta que foi feita pelas mãos de homens. Todavia, Maria foi feita e agraciada pelas mãos do próprio Criador afim de ser a perfeita morada de seu Filho. Toda honra que prestamos a ela, ainda é pouco se comparada a honra que Jesus prestou a ela tendo Maria como mãe e lhe concedendo infinitas graças. Nenhum outro ser, nem na terra, nem debaixo da terra e nem mesmo no céu esteve e está tão intimamente ligado a Santíssima Trindade como a Virgem Maria, predileta de Deus, esposa do Espírito Santo, muito amada da Igreja, mãe de todos os viventes resgatados por Nosso Salvador, gestante de todos que se inserem na Nova Aliança do Cordeiro.
Deus, em sua infinita misericórdia, providenciou desde a eternidade a perfeita e incorruptível arca, portadora da glória de Deus, preservada e agraciada, toda de Deus. Afim de trazer a salvação ao mundo, o infinito amor de Deus por toda criação, Cristo Jesus Nosso Senhor. Eis a Arca da Nova Aliança.
Roguemos a Maria para que Cristo seja gerado em nós.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, viva nossa mãe Maria!
“Às vezes, nos perguntam por que os escritores sagrados não mencionaram a grandeza de Nossa Senhora? Eu respondo, ela estava ou poderia ainda estar viva, quando os apóstolos e evangelistas escreveram sobre ela. Havia um único livro da Escritura que, com certeza, foi escrito depois de sua morte e este livro (Apocalipse 12) o fez, posso assim dizer, canonizando-a e coroando-a” São John Henry Newman